Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação, realizada no Quênia-África, em 1977, já chamava-se atenção para o perigo crescente de risco à desertificação em territórios de vários países, incluindo áreas semiáridas do Brasil. As principais causas que incentivam este risco estão relacionadas à intervenção do clima, dos solos, da fauna, flora e do ser humano. Sob estas mesmas condições, principalmente pressões antrópicas como a caça e a extração de madeira, fragmentos remanescentes de Caatinga enfrentam potencial degradação ambiental.
Pensando nisso, uma equipe de pesquisadores, liderados por Marina Antongiovanni, atual subcoordenadora da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Rio Grande do Norte, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mapeou os mais de 47 mil fragmentos remanescentes de Caatinga e identificou que as regiões norte e leste do bioma, as mais próximas do litoral, são as que apresentam maiores distúrbios antrópicos crônicos.
“O semiárido brasileiro é o mais populoso do mundo, e a gente não consegue entender de fato qual a permeabilidade das pessoas para dentro dessas áreas remanescentes de Caatinga. Com esse trabalho, nós conseguimos sair dessa coisa de preto no branco do bioma. A gente conseguiu enxergar tonalidades diferentes em função da qualidade [ambiental] do fragmento. Há aquelas áreas que foram desmatadas e há as que continuam fragmentos, mas quais as variações desse fragmento? Está mais ou menos perturbado? Isso tem a ver com a densidade populacional e fatores antrópicos que a gente conseguiu perceber com esse estudo”, explica a pesquisadora, Marina Antongiovanni.
O estudo também observou que as áreas que estão menos perturbadas coincidem com as maiores unidades de conservação da Caatinga: os parques nacionais da Serra da Capivara, da Serra das Confusões, de Sete Cidades, e Boqueirão da Onça, na porção oeste do bioma. “Esse estudo serve mais como um guia de ações que a gente tem que realizar no futuro, tomar mais cuidado com as áreas que estão sofrendo muita perturbação e, ao mesmo tempo, aproveitar as oportunidades que ainda restam no bioma da gente para proteger áreas que estejam mais intactas e preservadas”, explica Marina.
Assim como o processo de desertificação, retomando o que foi dito no início da notícia, é preciso identificar as ações sociais que levam ao processo. "Não basta manter a conectividade que a Caatinga já tem, a gente tem que ter políticas públicas que permitam que essas áreas que conectam as áreas protegidas já existentes tenham boa qualidade, e para que as pessoas tenham alternativas de exploração sustentável e que haja campanhas para diminuir a caça”, conclui Marina.
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