Nos últimos anos, as políticas de convivência com o Semiárido, especialmente as de acesso à água, têm inspirado outras regiões brasileiras e outros semiáridos no mundo. Elas também têm sido objeto de estudo de universidades, centros de pesquisa e acadêmicos. No último dia 20, Islene Pinheiro Façanha, economista e doutoranda no curso de Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável na Universidade Nova de Lisboa, em parceria com a East Anglia University, defenderá sua tese sobre Gênero e Água a partir da experiência do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). Em entrevista à Asacom, ela explica os impactos e desafios de uma política pública como o P1MC na vida das mulheres rurais de Serra Talhada, no sertão pernambucano; bem como as possíveis contribuições da academia nas políticas afirmativas para as mulheres.
Asacom - Você se dedicou a olhar o Semiárido para além da perspectiva do acesso à água enquanto política pública, mas sobretudo o impacto desse tipo de política na vida das mulheres rurais. O que a sua pesquisa revela?
Islene - A investigação revelou a inclusão feminina em uma política pública que trouxe uma gestão mais sustentável da água no âmbito doméstico e comunitário. Ao nível doméstico, as mulheres afirmaram que aprimoraram os seus conhecimentos sobre a gestão hídrica e adquiriram novas habilidades práticas, tais como: capacitação em gestão financeira e sobre a problemática ambiental. Além de capacitação profissional, como o curso de cisterneiras. As mulheres sentiram-se empoderadas ao serem as titulares da cisterna. Além disso, possibilitou uma maior autonomia hídrica das famílias. A poupança de tempo na coleta de água favoreceu a realização de outras atividades.
Ao nível comunitário, verificou-se uma maior participação feminina nas associações e em outros setores, com um maior destaque para o papel das mulheres na feira agroecológica de Serra Talhada. A partilha de conhecimentos sobre a água durante os cursos de gerenciamento de recursos hídricos foi apontada pelos informantes-chaves como uma experiência enriquecedora para o programa, contribuindo para a componente de valorização dos conhecimentos tradicionais.
Com base nas evidências empíricas apresentadas, pode-se afirmar que a abordagem bottom-up [estratégias de processamento de informação e ordenação do conhecimento] do P1MC, que incluiu as mulheres na governança local hídrica, está fundamentada na comunidade, respeitando os conhecimentos locais e com uma visão estratégica para o desenvolvimento rural. O programa definido para promover o acesso hídrico, sobretudo para mulheres chefes de famílias, levou em consideração experiências de vida reais e o contexto onde o paradigma participativo foi implementado e, portanto, é considerado bem-sucedido.
Leia entrevista completa: https://www.asabrasil.org.br/noticias?artigo_id=10973
Comments