O sistema de Reuso de Águas Cinzas (RAC) é uma forma de conservar, reciclar e economizar a água que seria descartada
Rodolfo Rodrigo Edição: Vanessa Gonzaga
Brasil de Fato | Recife (PE)
Há bastante tempo, a expressão “combate à seca” é utilizada para as dinâmicas de vida na Região Semiárida. No Nordeste, a experiência dos povos do Semiárido, das comunidades, dos movimentos e organizações sociais, aplica o termo “convivência com o Semiárido” para tratar de tecnologias que garantem um processo de vivência e produção que respeita os saberes locais, a cultura e a diversidade do ambiente.
Uma das tecnologias de convivência com o Semiárido que tem ganhado força no sertão de Pernambuco é o Reuso de Águas Cinzas (RAC). A água cinza é a água que ia embora do banho, da louça e de roupas. Essa água passa por um sistema que vai de uma caixa de gordura, depois para um filtro com carvão, areia, pedra e brita onde é filtrada e utilizada para irrigar um sistema agroflorestal.
Segundo Irlânia Fernandes, assessora técnica da Organização Caatinga, o RAC auxilia no saneamento no campo. “É um sistema de reuso que permite também a questão do saneamento básico, porque geralmente a água que ficava escorrendo vai para produção de alimento. Produção de alimento para as famílias, para os animais, para melhorar o meio ambiente. Então, essa é uma tecnologia que traz vários benefícios para fortalecer as atividades produtivas das famílias agricultoras, em especial da zona rural, que tem também muita dificuldade na questão do acesso ao saneamento”, explica.
A agricultora Maria Gerlande foi a primeira a ter o sistema RAC implantando na sua casa, em Flores, Pernambuco. Para ela, depois de muito trabalho, poder ver as plantações dando frutos traz uma alegria imensa. “Nós pagávamos 300 reais por mês de água, então, eu tomava banho na bacia, lavava roupa nas bacias, para ir recolhendo a água para usar no quintal produtivo que eu tinha”, complementa.
Depois de todo aquele processo, a água, agora limpa, é utilizada no sistema agroflorestal irrigando plantações de banana, feijão, limão e goiaba que depois, quando colhidos, são comercializados nas feiras agroecológicas e geram renda para as famílias. “Vivemos aqui em uma região semiárida, onde a maior parte do ano é seca, as famílias tentam aproveitar ao máximo a água que elas têm em sua propriedade. Ou seja, desde a cisterna 16 mil litros, outras tem a cisterna calçadão e agora estamos conseguindo transformar esse sistema de reuso numa alternativa para que as famílias consigam aumentar sua produção durante todo período do ano”, afirma Fagner Santos, assessor técnico do Centro Sabiá. Além da produção de alimentos para as famílias, a água também é direcionada para a produção de alimento animal. A água cinza, que antes poluía, está se transformando em alimento para os animais e para as famílias agricultoras.
Francisco Medeiros é agricultor e conta que depois da implantação do sistema RAC parou de usar agrotóxicos para não danificar as plantações. “Tudo isso foi me ajudando a parar o veneno. Tanto é que eu tenho os equipamentos, tenho máquina de pulverização guardada, mas já não uso. Vou tentar fazer um veneno suave, caseiro, para matar fungo nas plantas que não ofenda nada, feito da própria natureza, porque aquele tóxico eu não quero mais”, reitera.
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