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Não conter desmatamento na Amazônia é 'suicídio'


Área queimada da floresta amazônica em Altamira, no estado do Pará, em agosto de 2019. (AFP)

A Amazônia está se tornando uma savana e não combater completamente o desmatamento "será um suicídio", alertou o cientista brasileiro Carlos Nobre no domingo (22) na ONU, um dos especialistas em florestas tropicais mais respeitados do mundo. "Há indícios de que o processo de savanização começou" em mais da metade da floresta, disse Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade Federal de São Paulo, em entrevista à reportagem na véspera da cúpula climática na ONU.


"Dá para reverter? Acho que dá. Mas se o desmatamento continuar, se não tiver controle, temos um enorme risco de perder boa parte da Amazônia. Seria suicídio", afirmou. Nobre, 68 anos, disse que a capacidade da Amazônia de absorver carbono ainda é positiva "mas está em declínio". Ele também disse que a estação seca está ficando mais longa em 60% da Amazônia e que há uma tendência maior na mortalidade de árvores que precisam de mais umidade.


"Potência da biodiversidade"


"Todos esses fatores são sinais precursores de um ponto de ruptura, por isso é importante alcançar o desmatamento zero. Não vale mais a pena falar sobre desmatamento legal ou ilegal, deve ser zero e uma grande área de floresta deve ser restaurada", opinou. Segundo dados oficiais, o desmatamento da Amazônia brasileira praticamente dobrou entre janeiro e agosto, passando de 3.336,7 quilômetros quadrados no período de 2018 para 6.404,4 quilômetros quadrados neste ano, o equivalente a 640 mil campos de futebol.


Se a savana chegar a ocupar de 50% a 60% do Brasil, o processo será "irreversível", alertou Nobre no evento "Amazônia Possível", celebrado na ONU a fim de promover um novo modelo de desenvolvimento empresarial que respeite a biodiversidade. Recuperar a floresta levaria séculos ou um milênio. "É agora que nós precisamos mudar. Não temos mais tempo a perder", advertiu.

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