Há 24 anos, em 17 de abril de 1996, 21 sem-terra foram assassinados no episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado de Carajás, no Pará. Anualmente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza uma vigília em memória aos mortos nesta data, que marca o Dia Mundial da Luta Pela Terra. Este ano, em decorrência das medidas de isolamento social para conter o contágio em meio à pandemia do coronavírus, a vigília se transformou em doações por todo o país. “Não teria outra forma de homenagear os mortos senão através dessa que é uma ação tão direta no diálogo com o povo da cidade. Toda vez que chega um alimento da reforma agrária é também um chamado para que o povo da sociedade contra o vírus, mas também contra fome e desigualdade social no País”, explica Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST.
Em São Paulo, o movimento realizará doações de alimentos na Favela do Moinho, no Bom Retiro, assim como em Belo Horizonte, Alagoas, Rio de Janeiro, Recife, Maranhão, Paraná e Rio Grande do Sul. No extremo sul da Bahia, a juventude do MST organizou uma doação de sangue. Mafort afirma que a iniciativa vem ocorrendo há duas semanas, desde o início de abril, e hoje marca o dia de intensificação de doações, que deve ultrapassar 500 toneladas. Somente nesta sexta-feira, 17 apenas o estado da Bahia deve doar cerca de 200 toneladas de alimentos da reforma agrária. “O ponto alto das nossas mobilizações é a doação de alimentos. Desde que começou a pandemia, nós estamos nos envolvendo em cerca 100 ações de solidariedade em todo país”, afirma Mafort.
Ela destaca que as doações envolvem um processo de trabalho de base permanente com a população em meio a adversidades. “Isso ocorre em meio a uma situação bastante difícil das políticas voltadas para a reforma agrária. Nós estamos há cerca de oito anos praticamente com um número muito baixo de famílias acampadas que tiveram acesso à terra, muitos assentamentos sem política de crédito, sem renegociação de dívidas”. As ações de solidariedade do movimento, em meio à pandemia do novo coronavírus, contrasta com posições de empresários brasileiros. No dia 1º de abril, no Rio Grande do Sul, o MST anunciou a doação de arroz orgânico para ajudar a compor a cesta básica de pessoas em situação de vulnerabilidade. No mesmo dia, um dos sócios do Madero, Junior Durski, demitiu 600 trabalhadores.
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