
“Minha avó era catadora de caranguejo, minha mãe também, e eu também. A nossa sobrevivência era todinha de caranguejo”, resume Creusa Campelo da Silva, moradora da comunidade de Barra Nova, no município São Mateus, no litoral norte do Espírito Santo. O mar e o rio Cricaré, fonte de sustento dos pescadores do local, foram contaminados pelo rompimento da barragem do Fundão da mineradora Samarco, controlada pela Vale e BHP Billiton. A região foi reconhecida pelo Comitê Interfederativo (CIF) como atingida pelo maior desastre socioambiental do país, que completa três anos nesta segunda-feira (5).
A lama com rejeitos de minério de ferro chegou à comunidade em dezembro de 2015, cerca de um mês depois do rompimento da barragem em Mariana (MG). “Começou a dar tontura, coceira e bolhas no corpo. Ninguém sabia o que era. Depois descobrimos que era do rejeito da Samarco", relata Creusa.
A região abriga 22 comunidades que tradicionalmente viviam da pesca artesanal, inviabilizada após o rompimento da barragem. Eliane Balke, pescadora, conta que a água do rio Cricaré ficou suja e com cheiro forte, causando a morte de peixes e outros animais. “Estamos sendo atingidas a cada maré. O crime da Renova, renova a cada maré", diz Balke, em referência a Fundação Renova, criada para atuar na compensação dos impactos do rompimento da barragem.
A barragem de rejeitos da Samarco rompeu em Mariana e atingiu grande parte da bacia do Rio Doce. A lama percorreu mais de 600 quilômetros entre Mariana (MG) e a Linhares (ES), e afetou mais de 140 quilômetros de litoral. O Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) calcula que cerca de 2 milhões de pessoas foram atingidas, mas apenas 8.537 foram indenizadas por danos gerais e 254 mil indenizadas por desabastecimento de água.
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