Estudo do Inpe revela a expansão do clima árido no Brasil e alerta para o avanço de áreas em desertificação. Ações e iniciativas como as do Seapac mostram soluções sustentáveis e esperança para as regiões afetadas.
Hecléia Machado | Assessoria De Comunicação - SEAPAC
Natal | Rio Grande do Norte
Um estudo recente conduzido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou, pela primeira vez, a presença de uma extensa área tomada pelo clima árido no Brasil . A área em questão fica na região norte da Bahia, e junto com essa descoberta também foi constatado que o Semiárido vem aumentando. A previsão é de que nos próximos anos, com exceção da região sul e dos litorais, esse clima tome cada vez mais conta do país.
Esse fenômeno, que, em termos mais simples, pode ser traduzido como um processo de desertificação, não é causado simplesmente pelo impacto do aquecimento global. Analisando a situação específica do Brasil, é possível identificar causas mais complexas que atravessam a história do país.
O processo de desertificação em andamento é, em grande parte, resultado do desmatamento que acontece desde a invasão portuguesa e só tem se intensificado ao longo dos anos. Para se ter uma ideia, apenas no último governo, o saldo final do desmatamento da floresta amazônica foi de incríveis 35.193 quilômetros quadrados em quatro anos, superando a área total dos estados de Sergipe e Alagoas combinados.
Essa degradação ambiental é resultado do trabalho árduo de garimpeiros e grileiros, cujas atividades comprometem a capacidade vital da Amazônia em fornecer umidade para outras regiões do Brasil. A diminuição dos "rios aéreos", canais responsáveis por transportar umidade, resulta no agravamento de áreas que já eram secas, criando verdadeiros desertos devido à baixa umidade e precipitação.
AGROECOLOGIA: SOLUÇÃO PARA A DESERTIFICAÇÃO
Usando as ações que vêm sendo desenvolvidas há mais de 30 anos pelo Seapac, vemos que é possível prosperar mesmo em meio a condições climáticas desafiadoras. A implementação e o manejo correto das tecnologias sociais e da agroecologia como ferramentas determinantes, mostram que o clima seco não é, de maneira alguma, sinônimo de improdutividade.
Contudo, a perspectiva sombria emerge quando consideramos que se no Semiárido um esforço significativo é necessário para alcançar a prosperidade, em um cenário desértico, a convivência torna-se ainda mais difícil, e a possibilidade de semear vida fica cada vez mais distante.
Apesar da descoberta recente sobre a presença do clima árido ter ganhado atenção graças à popularização das discussões sobre clima e meio ambiente, desde os anos de 1970, estudos já registravam pontos desérticos isolados no nordeste brasileiro.
A literatura científica revela que áreas desertificadas já eram observadas na Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Piauí. Desde então, esses "núcleos" desérticos têm se expandido, caracterizando-se não como desertos típicos, mas como áreas desérticas geradas por ações humanas, resultado da ocupação e uso inadequado da terra.
Os impactos decorrentes do surgimento dessas zonas desérticas extrapolam a improdutividade do solo. Um artigo publicado no final de 2023 pelo pesquisador Humberto Alves Barbosa associou as áreas severamente áridas à redução na formação de nuvens de chuva nas regiões circundantes.
No artigo, Humberto explica que a degradação extrema dessas áreas não se limita a alterar radicalmente as condições do solo, mas também muda a interação entre o solo e a atmosfera. Em termos mais simples, é como se as nuvens de chuva evaporassem ao passar por essas áreas, impedindo-as de chegarem a outras regiões.
O resultado é um ciclo vicioso que se retroalimenta e continuará a expandir as áreas semiáridas e áridas do Brasil se não houver esforços para conter, ou, esperançosamente, reverter a degradação. Diante dessa realidade, o Seapac segue dedicado não só a combater os retrocessos ambientais, mas também a difundir informações sobre o cenário de desertificação que enfrentamos coletivamente.
Em resposta a esses retrocessos ambientais, o Seapac oferece como ferramenta de mudança a criação de uma rede de agroecologia no Semiárido potiguar, com a esperança de que essa iniciativa se expanda e leve vida para além do nosso estado. A atuação persistente do Seapac em fomentar a agroecologia e implementar tecnologias sociais de convivência com o Semiárido destacam-se como uma resposta positiva a um cenário ambiental desafiador, demonstrando que a ação local pode, de fato, gerar impactos globais.
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