Bancos de Sementes são resistência da agricultura familiar pela agrobiodiversidade

Ao longo dos anos, as famílias agricultoras do Semiárido brasileiro conduziram uma cultura de estoque de sementes para que pudessem estar resguardadas nos tempos de estiagem. É por essa tradição que, através de gerações, variedades imensas de sementes adaptadas às características locais e territoriais chegaram aos dias atuais. No entanto, durante o século XX, a chamada Revolução Verde se constituiu numa mudança drástica na agricultura mundial para regular a produção e a comercialização das sementes, trocando o alicerce da diversidade pelo discurso da eficiência na produção de alimentos padronizados, cada vez mais concentrados nas mãos de latifundiários e empresas, com respaldo nas legislações de muitos países. As sementes das agricultoras e agricultores familiares, nessa trajetória, passam a ser marginalizadas e tratadas como grãos.

É na percepção desse contexto desfavorável para as famílias que surgem os movimentos de resistência ao agronegócio industrial. Em entrevista à assessoria de comunicação da ASA, o extensionista rural Pedro Henrique de Medeiros Balensifer fala que o sentimento de perda “é muito claro em reuniões com agricultores quando você coloca [pergunta] pra eles ‘o que seus pais e avós plantavam de sementes que você não vê mais hoje?’. E eles colocam os nomes de muitas variedades que já não são mais encontradas em suas comunidades. Então isso gera um processo de resistência porque é muito forte o peso da tradição no meio dos agricultores familiares e camponeses. Eles trazem a memória familiar e afetiva muito grande com relação às sementes. Isso os motiva a preservá-las”, diz Pedro.
O texto “Redes Territoriais de sementes crioulas: um novo olhar dos serviços de assistência técnica e extensão rural (Ater) em Pernambuco”, do qual Pedro é co-autor, publicado no periódico especializado digital Brazilian Journal of Agroecology and Sustainability, narra esse contexto, trazendo a mudança de metodologia e abordagem que os serviços de Ater refletiram a partir desse movimento de resistência e de articulação campesina. Pedro Balensifer é Mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local pela UFRPE e extensionista rural do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA. É membro do Grupo de Estudos, Sistematização e Metodologia em Agroecologia do IPA - GEMA/IPA e da Rede de Sementes Crioulas do Agreste Meridional de Pernambuco - Rede SEMEAM.
Acesse a entrevista: https://www.asabrasil.org.br/noticias?artigo_id=10980