Francisco Teixeira, Diác. da Igreja
No grande esforço desprendido pelas Organizações da Sociedade Civil que atua no nordeste brasileiro, está a difusão e implementação das tecnologias sociais de convivência com o semiárido entre as famílias campesinas que vivem da agricultura familiar e demais cidadãos que vivem no entrono ou que são consumidoras da produção dessas famílias. Dentre as tecnologias destaca-se a construção de cisternas para captação e armazenamento das águas de chuvas, e do reuso de água para a produção de alimento animal e de consumo humano. Tudo isso supõe educação para uso responsável, racional e econômico das águas disponíveis em cada unidade familiar.
A gestão dos recursos hídricos tem um grande desafio, equilibrar a necessidade dos usuários e a disponibilidade de água. A pressão sobre os recursos hídricos pode ser reduzida com o controle das demandas. A ninguém hoje é dado o direito de ignorar que a escassez de água é uma realidade que afeta 40% da população mundial. Só no Brasil cerca de 35 milhões de pessoas não têm acesso a água encanada e 100 milhões de brasileiros não têm coleta de esgoto (SNIS 2019). No ano de 2011, 41 países enfrentaram problemas relacionados à água, sendo que 10 deles estão perto de diminuir o fornecimento de água potável e precisam de fontes alternativas para garantir o abastecimento de forma digna (PNUD BRASIL). Além disso, “para 2050, está projetado que uma em cada quatro pessoas será afetada pela carência de água” (PNUD BRASIL). Cerca de 785 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a uma fonte segura de água potável (UNICEF, 2019), 3,5 milhões de pessoas morrem por ano no mundo por problemas relacionados ao fornecimento inadequado da água, à falta de saneamento e à ausência de políticas de higiene (EBC, 2013). Sem dúvidas são dados alarmantes e que nos cobram por ações eficazes e seguras.
O Seapac há mais de uma década tem desencadeado um processo de educação, capacitação e formação permanente das pessoas alcançadas por suas atividades, levando-as a assumir uma postura proativa no desenvolvimento de tecnologias adaptadas, de baixo custo, que mitigadoras dos efeitos climáticos na região do semiárido potiguar. Assim é que o reuso de água surge atuando em dois aspectos: Instrumento para redução do consumo de água (controle de demanda) e recurso hídrico complementar, de muita valia para a produção agroecológica, gerando oportunidade de trabalho e renda para os que vivem da agricultura familiar.
Destaque-se que o reúso de água tem como principal foco diminuir o desperdício de água potável. Sobretudo, em face de um cenário atual de escassez hídrica, observada em diversas regiões do mundo, relacionada aos aspectos de quantidade e de qualidade da água. A busca por alternativas que visam o uso sustentável desse valioso e indispensável recurso natural caracteriza a prática do reúso planejado da água como de extrema importância na sociedade atual, e tenderá a aumentar ainda mais no futuro.
As experiências já implementadas pelo Seapac em várias comunidades rurais do sertão potiguar têm demonstrado ser possível tornar as famílias campesinas em protagonistas dessas ações de convivência com o semiárido, levando-as a compreender que o reuso de água deve ser considerado como parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água, como parte intrínseca ao saneamento rural tão necessário para a saúde com qualidade de vida das populações que vivem na zona rural potiguar.
Afinal, cremos que o acesso à água potável e ao saneamento básico é um direito humano essencial, fundamental e universal, indispensável à vida com dignidade e reconhecido pela ONU como “condição para o gozo pleno da vida e dos demais direitos humanos” (Resolução 64/A/RES/64/292, de 28.07.2010).
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