Conservar a Amazônia é muito mais lucrativo do que substituir a floresta por monocultura ou pecuária, segundo explicou o professor Carlos Nobre, diretor de pesquisa da Academia Brasileira de Ciências, numa sessão no maior auditório do Fórum Econômico Mundial. Na quarta-feira, 22, ele participou, ao lado do presidente colombiano, Ivan Duque, e do ex-vice-presidente americano Al Gore, de uma sessão especial sobre como garantir um futuro sustentável à Amazônia. Nobre também participou do Sínodo da Amazônia, realizado em outubro de 2019, no Vaticano.
A crise ambiental é o grande tema do fórum de Davos neste ano, com mais discussões que as dedicadas a assuntos tradicionais, como as condições do comércio internacional, as mudanças tecnológicas e as perspectivas da economia global. Os riscos econômicos principais estão hoje associados à emergência ambiental, havia dito horas antes, em outra sessão, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Questões ambientais têm destaque, há algum tempo, nas pautas do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Mundial e de bancos centrais, mas são tratadas como irrelevantes, ou até negadas, pelo governo brasileiro.
Única figura brasileira a participar dos debates sobre meio ambiente em Davos, o professor Carlos Nobre diverge do governo ao reconhecer a mudança climática e sua importância para todo o mundo. Suas advertências vão até detalhes da atividade econômica. Ao apontar a exploração do açaí como dez vezes mais lucrativa que a pecuária em zonas desflorestadas, o cientista usou um argumento com tradução imediata em dinheiro. Mas o argumento dramático foi outro: se o ponto de virada for atingido a devastação terá chegado a 50%, talvez 60%, e a floresta será incapaz de se recompor. Nesse caso, grande parte da Amazônia se converterá numa savana seca.
Desflorestada, a Amazônia deixará de funcionar como fonte de chuvas para outras áreas. Essa é, lembrou o professor, uma das funções das florestas tropicais. Secas prolongadas, um dos efeitos da mudança climática, já são um sinal de alerta em várias partes do mundo, acrescentou. Uma campanha de plantio de um trilhão de árvores em dez anos é uma das marcas principais da reunião do fórum neste ano. É também parte da celebração de seu 50º aniversário. Ao anunciar, na terça-feira, 21, apoio a essa campanha, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais uma vez pode ter surpreendido seu mais importante seguidor na América Latina, o presidente Jair Bolsonaro. Trump rejeitou as advertências sombrias sobre o clima global, mas se declarou empenhado em preservar e elogiou a iniciativa do fórum.
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