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Agrotóxicos no Brasil: a necessidade de fortalecer a agricultura familiar e proibir o veneno na mesa do brasileiro

Após veto do presidente Lula ao PL do Veneno, o tema voltou ao debate nacional. Pesquisadores, movimentos populares e instituições alertam a importância de seguir na luta contra o uso abusivo de agrotóxicos e na defesa da agricultura familiar.



Hecléia Machado | Assessoria de Comunicação do Seapac

Natal | Rio Grande do Norte


Em 11 de janeiro celebramos o Dia Nacional do Combate à Poluição por Agrotóxicos, data estabelecida em 1990 com o objetivo de destacar  a urgência de repensar práticas agrícolas em meio a um cenário onde o uso indiscriminado desses produtos compromete o meio ambiente e a saúde humana. Contudo, ano após ano, as estatísticas continuam a revelar uma realidade preocupante: o Brasil persiste em bater recordes na aprovação de novos agrotóxicos.


Conhecidos também como agroquímicos ou defensivos agrícolas, na prática, os agrotóxicos nada mais são que venenos sintéticos usados para otimizar a plantação em massa e garantir lucro para o agronegócio. Com o uso dos venenos, os insetos ficam longe das plantações, a produtividade da lavoura aumenta e, apesar de ganhar um alto potencial cancerígeno, o produto final acaba visualmente mais bonito, logo, mais facilmente comercializável. 


Entre os principais riscos à saúde humana causados por alimentos que são produzidos com agrotóxicos, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) também destaca problemas neurológicos, cânceres, irritações da pele e problemas hormonais. O contato direto da população com os agrotóxicos causa agravamentos à saúde, segundo pesquisas da Universidade Federal do Mato Grosso, já foram encontrados índices de agrotóxicos no leite materno. Além disso, existem os danos à natureza, se destacam o envenenamento do solo, contaminação dos lençóis freáticos, morte da fauna e a perda da biodiversidade local.


Mesmo com todos esses malefícios comprovados pela ciência e órgãos de controle, nos últimos anos, os brasileiros foram espectadores da flexibilização nas regras de uso e até incentivos fiscais para compra e aplicação de venenos nas lavouras. Para ter uma ideia do cenário atual, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), nos últimos 40 anos, o uso de agrotóxicos aumentou mais de 400%, dado que prova que antes mesmo da polêmica PL do veneno, que voltou a ser pauta após ser vetada pelo presidente Lula, já existia um projeto político que visava incentivar o veneno.


Esse incentivo rendeu ao Brasil o título de maior consumidor de agrotóxicos no mundo, a população brasileira ingere em média e indiretamente mais de 5 litros de veneno, é o que apontam os dados da Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos. Nos últimos seis anos, o Brasil bateu recordes de liberação de novos agrotóxicos, uma lista extensa de venenos liberados para diversos usos, destes muitos são proibidos em outros países devido a seus efeitos devastadores na natureza e na saúde da população. A relação do governo com os agrotóxicos escancara os desejos de uma bancada ruralista que visa o lucro acima da vida humana.




Nesse contexto, a agricultura familiar e a agroecologia emergem como fontes de resistência, mostrando que existe um caminho para produzir alimentos, sem envenenar as pessoas. Contudo, o caminho para a promoção da agricultura familiar não é isento de desafios. A falta de apoio financeiro e políticas públicas específicas para esse setor representa um obstáculo significativo.

Pequenos agricultores normalmente optam por métodos alternativos, como a agricultura orgânica, agroecológica e biodinâmica, reduzindo significativamente a dependência de agrotóxicos. Essas práticas não apenas preservam a qualidade dos solos e a biodiversidade, mas também asseguram a produção de alimentos mais saudáveis e livres de venenos.


Em um país em que agrotóxicos e o agronegócio são agraciados com isenção fiscal e a agricultura familiar se vê abandonada pelo poder público, o “Dia Nacional do Combate à Poluição por Agrotóxicos” serve como um lembrete crucial da necessidade urgente de repensar nosso relacionamento com esses produtos químicos.


Diante do cenário atual, apoiar a agricultura familiar e a agroecologia é uma alternativa promissora, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis e garantindo a produção de alimentos saudáveis. Investir nesse setor não apenas preserva a biodiversidade e a qualidade do solo, mas também contribui para a construção de um futuro onde a Segurança Alimentar e a saúde coletiva são prioridades, pois a verdadeira fertilidade da terra reside na sabedoria de proteger aquilo que dela provém.


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