A cidade do Rio de Janeiro ocupou as manchetes de jornais em todo o Brasil e no mundo nas primeiras semanas de 2020, mas não foi por conta de suas belas paisagens litorâneas, senão pela qualidade da água disponibilizada às pessoas. O problema histórico nas regiões periféricas de todo o Brasil chegou à classe média carioca e ganhou status de calamidade. Essa é só a ponta do iceberg do descaso do saneamento básico no país. “Todos os afluentes ao rio Guandu se encontram em estado avançado de degradação da sua qualidade, uma vez que cortam regiões/municípios com crescente adensamento populacional e sem qualquer serviço de esgotamento sanitário prestado de forma efetiva. Ou seja, todo esgoto doméstico gerado nessa região vai para os cursos d'água sem qualquer tipo de tratamento”, explica a professora doutora Iene Christie Figueiredo, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
O descalabro do fornecimento de água suja e contaminada é resultado da negligência dos poderes públicos, tanto em fiscalizar e cobrar o cumprimento da lei, quanto da falta de investimentos suficientes na gestão dos recursos hídricos. “A real aplicação dos requisitos legais, e a adequada fiscalização/regulação dos serviços de Saneamento são fundamentais para a segurança hídrica. Apenas 46,3% dos esgotos gerados no Brasil em 2018 foram conduzidos ao tratamento (não podemos afirmar que o tratamento foi adequado/suficiente para atender aos padrões de lançamento). Considerando que a Política Nacional de Saneamento é de 2007, fica claro nosso descaso com a problemática com a devida prestação destes serviços”, pondera a entrevistada.
O atual contexto de crise climática sugere que atualizemos nossa compreensão sobre o que compreendemos como colapso, o que não é um destino para o qual caminhamos, senão uma realidade fática em muitos contextos. “Cada região terá sua condição atual e capacidade de reversão diferentes. Mas acho que já nos encontramos em colapso, mesmo que de forma esporádica, em muitas regiões”, complementa a entrevistada.
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